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JB Lazzarini - por  Mamede / 2012

    A brasilianidade pode expressar-se por uma estética própria. Não apenas uma estética de conteúdo, mas uma estética de forma, pictórica. Em suma, uma pintura com cara de Brasil. Foi o que tentou Tarsila do Amaral. Mais do que Anita Malfatti, e seu expressionismo de raízes européias (tanto quanto o academicismo que lhe antecedeu), Tarsila propôs-se uma pintura de forma brasileira. Superou o cânone do mero conteúdo, para trazer formas e cores que traduzissem essa tropicalidade tupiniquim.
Essa fundação de uma brasilianidade pictórica, por exemplo, salta a obra de Cândido Portinari, de incontestável importância. Afora certas peças, em que a paleta se apresenta mais tropical, mais fauve, Portinari está menos atento à tropicalidade e mais preocupado com seu ativismo social, numa escolha que não me parece merecer crítica. Usa do cubismo e até do expressionismo europeus para trazer para a tela o drama dos brasileiros: os cenários secos, a miséria de famílias inteiras, o empenho do trabalho braçal, os descampados onde, alheias a tudo, as crianças brincam.
    Guignard é uma referência interessante, mas sua paleta saltou a proposta de uma brasilianidade para se situar uma mineiridade plástica, construindo um expressionismo das Gerais. Paisagens afogadas no verde das Alterosas, salpicadas de pequenas casas e igrejas em profusão, penduradas em montanhas, por vezes ao modo da pintura oriental. Mas é uma pintura mineira no seu jeitinho, dessas que nos acostumamos a ver nas varandas ou nos tetos dos velhos casarões coloniais. Um resgate simplesmente genial.
Mas há, ainda, Di Cavalcanti e, sim, com uma brasilianidade ímpar. Não apenas pela temática, mas principalmente pela coragem de suas cores. Suas telas são um espelho do espectro vivo das cores cotidianas do Brasil, entre paisagens naturais e, até, paisagens urbanas. Há na sua pintura uma coragem de abrir a cor como apenas os chamados pintores ingênuos (naïfs) ousaram fazer, embora o tenham feito depois dele.
    É nesse enredo que contemplo, encantado, a pintura de J.B. Lazzarini. A compreensão de seu trabalho demanda atenção ao tempo, realçando um período de formação e evolução, no qual suas experiências com a cor ainda buscam um equilíbrio que, enfim, a maturidade lhe deu. O contraste abrupto entre cores como preto, azul, vermelho e amarelo, por vezes chapadas em formas exclusivamente geométricas, foi indispensável para moldar uma expressão própria, inconfudível e, melhor, capaz de expressar uma estética da brasilianidade que o coloca como herdeiro da herança de Tarcila e Di Cavalcanti, embora sem nunca copiá-los.
    Em seu atual estágio de produção, como se vê na série Sertão e, principalmente, da série Metamorfose, é de uma riqueza ímpar. Antes de mais nada, uma riqueza nos matizes: sutilmente, a cor obtém do espectador a primeira reação ao tema exposto. O vermelho, preto e laranja, para o agreste sertanejo; cinza, preto, branco e sutis azuis para o enredo aquático; a profusão de cores, contrastadas, para a totalidade da paisagem. Superando a fotografia, essas obras relatam as paisagens brasileiras para a íris, multiplicando as referências que evocam a cenografia natural e social brasileira.
    Na série Metamorfose, essas qualidades se mostram lapidadas. O contraste pictórico continua rico, mas absolutamente harmônico e equilibrado com as formas. A proposta de uma tradução tropical exibe-se mais sutil e elegante, embora conserve a bravura do fauvismo e do colorismo, num eixo que remonta, no exterior, a Gaugin, Matisse e Cézanne, e no Brasil a Inimá de Paula.
    J.B. Lazzarini, no entanto, não é replicador de qualquer desses pintores. Quem admira seus trabalhos vê a tradição colorista, mas expressa de forma original. Mesmo o cubismo de Picasso e Portinari, encontra em suas telas uma nova afirmação, rica e revisitada, ampliando as possibilidades do traço e da criação artísticos. Os cubos se postam como um caleidoscópio da realidade, aproveitando-lhe a riqueza de elementos, formas e tons.

    Mais do que a visão da paisagem tropical, o artista transmite a sensação de encantamento provado por essa paisagem. Esse encantamento passou a ser ainda maior quando o artista aceitou trabalhar com grandes formatos, que tomam o expectador como uma explosão que, diante de seus olhos, não lhe permite ver mais nada: tudo é a obra de arte.
    Já seria o bastante. Mas é preciso destacar um último ponto: o exercício desse caminho de construção artística direcionou-se, com uma naturalidade impressionante, para um retorno ao fraseado colorista ao extremo da abstração. O mesmo percurso de Mondrian, 60 anos antes. É essa a grande metamorfose de seus trabalhos atuais. Ainda se percebem os ícones de brasilianidade, mas a forma alia-se à cor para ser menos explícita, mas ainda assim, mensageira. É indianista, é afrobrasileira, é mesmo urbana, na frialdade do cinza e negro e afins. Essa simplicidade reducionista é extremamente eloquente.
    Eis a razão de minha admiração por esse grande artista: J.B. Lazzarini assumiu o ônus de uma estética brasileira e desempenha essa função com maestria. Embora seguindo uma tradição, é único no que faz, postulando seu lugar na história nacional das artes plásticas.

Forma - Metamorfose - por Julio Martins / 2010

    JB Lazzarini é um jovem artista que dedica sua pesquisa plástica à Pintura, notavelmente o suporte e a linguagem mais exigentes na contemporaneidade, seja pelo desafio de tornar a pintura porosa a outros campos que não os de suas especificidades formais, seja pela heróica história da pintura que legou à arte, inegavelmente, verdadeiras edificações imagéticas e conceituais, cuja riqueza inesgotável definiu mesmo um vocabulário para a imaginação humana – es(colhendo) a palavra imaginação para definir tanto a capacidade de imaginar como a de produzir imagens.
    Não há exagero quando se diz que a pintura, ao longo da história da arte, constituiu um campo disciplinar potente, pleno em recursos poéticos, propriedades plásticas e significativas, capacidades inúmeras de figurar, enunciador de vocabulários e gramáticas múltiplos, promotor das veracidades cromáticas e da solicitação comovente de todos os sentidos em sua complementaridade a partir da visão. Enfim, a idéia do ‘pictórico’ diz respeito àquilo que é essencial: a pintura se apresenta como espaço de pensamento e corporeidade, cuja visibilidade torna-se privilegiada, evocativa das reais densidades daquilo que se enxerga sem se ver e mesmo do invisível. “A pintura pensa”, como bem disse o filósofo francês Georges Didi-Huberman, e oferece ao olhar uma abertura sensível das mais abrangentes. Na condição contemporânea, a pintura possível é aquela que dialoga criticamente com toda a complexidade desta herança… que se pra uns foi motivo bastante para declarar seu esgotamento, vide os prognósticos da morte da pintura, para outros, por outro lado, constitui farto manancial para continuidade e aprofundamento das pesquisas pictóricas. Toda pintura de qualidade realizada nos dias de hoje deve obrigatoriamente inserir-se como uma tentativa de criar uma leitura crítica da tradição da pintura, estabelecendo um sentido que interesse e amplie este já incontornável e múltiplo território.
    O legado da pintura moderna está presente – posto em jogo – no trabalho de Lazzarini. Seu plano pictórico é mapeado pelas coordenadas do cubismo e do neoplasticismo, da grade moderna, aquela erigida nas pinturas de Mondrian, na qual as forças dispostas na tela estão delimitadas nas linhas verticais e horizontais.

    Lazzarini assim divide a tela sem que, no entanto, busque uma diagramação regular do espaço. Pois seu esforço em otimizar o plano não esconde um desejo de desorganização por meio das cores e do ritmo composicional, em plena profusão de signos, o que configura uma verdadeira metamorfose das formas, já que se conjuga o rigor geométrico
das linhas precisas à sensualidade das curvas e dos elementos figurativos. A clarividência geométrica é pervertida em favor de uma multidão cromática e figural. Portanto, a formametamorfose de Lazzarini implica uma diferenciação radical ao assumir na inteligência construtiva das formas geométricas o anúncio de fragmentos de paisagens e formas orgânicas.
Abstração e figuração se encontram imbricadas, tecidas em matérias cúmplices, revezando indecisas, dispersas e pulsantes na superfície das telas. Contemplamos uma geometria sensível, incongruente, ilusória ou contemplamos cartografias de paisagens fragmentadas, parcialmente visíveis, misteriosas, desenraizadas, entrecortadas, encadeadas em suas incompletudes? As obras apresentam-se sob a ordem desta ambigüidade, compondo finalmente um rico mosaico rizomático.

    A pintura de Lazzarini demonstra que as relações entre as partes e o todo podem ser desiguais e imprevisíveis.
   A esta saudável indecidibilidade da forma-metamorfose corresponde um ritmo igualmente oscilante, o qual convida nosso olhar a decompor-se e vagar, desorientado, por zonas de cores, por troncos de árvores, por formas e recantos, por uma vista que se multiplica, por galhos que germinam cor, pôrdo- sol… A cor detém a propriedade de também transmutar-se e oscilar em intensidades mesmo alucinantes.    

    É pela cor que a tessitura fragmentada das imagens adquire uma qualidade vibrátil e musical. Esta dinâmica também de(forma) quando age no sentido de compor a trama encarnada da pintura, na qual a estruturação geométrica é retorcida, dobrada, e empreende, por fim, uma verdadeira descentralização do olhar.
    O investimento cromático reavalia o pretenso equilíbrio do gradil e o povoa do movimento dinâmico dos signos visuais que proliferam. A energia cromática da forma-metamorfose toca o olhar evidenciando não propriamente formas transitórias, mas a própria transitoriedade das formas.

O pintor que salvou a paisagem da morte

                                                       por pierre Santos - 2009

    Caminhando em torno de lagoa existente na região onde moro, ponho-me a observar árvores, gramas, canteiros floridos, água ondulando ao sopro da brisa, cães, pássaros, mosquitos… e um majestoso céu azul aberto como um pálio protetor sobre tudo aquilo. Então falo comigo mesmo, como se fizesse uma descoberta: olhe aí no conjunto desta paisagem os quadros de Lazzarini, que sintetizam de maneira mágica todas as paisagens das Gerais! A minha impressão naquele momento era exatamente esta, pois havia acabado de ver na véspera todas as unidades de sua próxima exposição, que acontecerá no Museu Inimá, as quais só posso descrever assim: não só vejo estes quadros, mas também os escuto, entro neles como se entra em bosques e chego a sentir no rosto o frescor da brisa, a quentura do sol filtrando-se entre ramas, a ouvir o coaxar de sapos e rãs, o trilar de grilos, o alegre gorjear de passarinhos e o farfalhar do vôo de solitária garça; até sinto nas mãos o macio aveludado da pele das folhas e a frescura das águas de inumeráveis lagoas como esta, em volta da qual ando, pensando este texto.
    As obras observadas lá no atelier e as coisas ali mostradas pela natureza entravam-me pelos sentidos e pelos sentimentos, causando a emoção de inusitado alívio. Este se deve ao fato de que, se elementos paisagísticos vinham sendo há muito tempo inseridos, de forma acanhada, esporádica e às vezes até aleatória, nas composições dos antigos egípcios, gregos, romanos e medievais; se importantes referências de paisagens foram usadas em fundos de quadros como mero plano de sustentação a temas desenvolvidos à frente, desde o quattrocento até os últimos românticos do século XVIII; se só ganhou status de gênero artístico de criação independente em Fontainebleau, com os pintores de Barbizon do princípio do século XIX e veio sendo modificado e adaptado às exigências do Modernismo ao longo daquele século, desde o Impressionismo até os primeiros movimentos artísticos do século XX – com o advento e predomínio do Abstracionismo a partir do final da segunda década daquele século, o gênero paisagem se viu superado, como de resto todo o figurativismo.
    É verdade que, paralelamente à evolução do abstrato e da vanguarda que se lhe seguiu, até à contemporaneidade, um contingente consideravelmente grande de pintores denominados acadêmicos insistiu em manter em uso a fatura dos primeiros paisagistas do século XIX, apenas aperfeiçoando-lhes a técnica e a ‘visão fotográfica’. Esses pintores conseguiram, até certo ponto, fazer uma arte digna até um pouco além de meados do século XX, pois tinham a mostrar algo mais do que um simples virtuosismo técnico.
    Os pintores do ramo, que se lhes seguiram e persistem ainda hoje, por incrível que possa parecer, só mantiveram deles a busca da perfeição técnica e fotográfica (perfeição esta que ilude sobremaneira o público menos avisado) e, estes sim, por sua ilusão de estar fazendo arte, se encarregaram de extraviar, definitivamente, daquilo que pintavam, e ainda pintam, o esto da criação – ressalvados os chamados paisagistas naïfs, que fazem uma arte espontânea e criativa, sem ter relação com época nenhuma.
    A paisagem estava morta. Viva a paisagem! podemos hoje exclamar, em vendo esta cativante série de pinturas de JB Lazzarini. A paisagem está salva! Até que enfim temos uma nova maneira de se criar paisagem num suporte pictórico, uma paisagem completamente inaudita e diferente de tudo quanto, ao longo de vários séculos, os artistas vieram explorando à exaustão, a ponto de se acreditar que o gênero estava esgotado. Isto para o crítico é alívio; para o público, regozijo.
    Afinal, JB nos emociona agora com paisagens em tudo renovadas, passando-nos essa imagem de renovação em pinturas incrivelmente assépticas em suas cores pelo próprio artista preparadas a partir de pigmentos escolhidos, passadas sobre campos chamados geometrizados em tonalidades diferentes e originais, em cujos intermezzos inventa uma surpreendente simbologia referencial, na qual encontramos o renascimento da paisagem. É por intermédio desta simbologia que logra humanizar alguns movimentos ligados ao geometrismo, nos quais nosso pintor planta as suas raízes, tais como o Abstracionismo Geométrico, o Virtualismo Pictórico, a Op-Art principalmente e outros posteriores, cuja humanização também nos surpreende, dada a sua amplitude.

A paisagem está salva!!!

O que consagra o artista? por Guiomar lobato - 2010

    O que “faz” o artista é, sem dúvida, o dom da arte. A vocação inata à qual pode responder ou não. Se responde, procurando desenvolver o dom através de estudo especializado, para aquisição da técnica imprescindível, dá o primeiro passo rumo à possível consagração.

    Se ao longo do longo aprendizado, ao lado da teoria, ele se dedica com afinco a “aprender fazendo”; se não desanima, ao contrário, persevera; vence cansaço e várias sortes de dificuldades, e – acima de tudo – ainda nesta fase de aprendizado e exercício de arte, já consegue definir qual estilo pictórico é o mais adequado à sua expressão e capacidade de execução; se não perde a confiança em si, temos o segundo passo – com grande distância do primeiro – rumo ao sonhado objetivo.

    Se o estilo escolhido é pouco usual e de difícil feitura, e se o batalhador da arte consegue dominá-lo e transformá-lo em veículo dócil, subjugado e moldável às vontades do seu pensamento criativo; se neste estilo, o artista – sim, agora estamos falando de um artista – consegue imprimir alguma solução inédita e inovadora, diria até revolucionária; chega-se à consagração. A partir daí, sua obra falará por ele.

    E se o universo conspirar a favor (acontece), não demorará que alguém (principalmente entre aqueles nascidos com o dom da arte, que dela não se tornaram executantes) de olhos perspicazes e mente disposta, perceba-lhe o valor. Tem início o processo da consagração.

J. B. Lazzarini uniu o “pop” e o “optical”, estilos de desenhos chapados e cores puras – que remetem ao mosaico e ao desenho animado – e os revolucionou. Criou suas cores partindo da tinta acrílica branca, modificada segundo fórmula própria, e pigmentos líquidos. Sua paleta cromática é pessoal e belíssima, inconfundível. Com profunda e certeira intuição, mão rigorosíssima e total domínio dos recursos óticos, consegue incluir nas suas telas “pop” (que, por tradição e natureza, até então não alcançavam voos assim profundos) todos os requintados efeitos perseguidos pelos grandes artistas: planos de profundidade, perspectivas aéreas, equilíbrio de composição e, ainda mais!, movimento e musicalidade ao lado de rigidez geométrica, e esta ao lado de vigor germinativo e forças orgânicas. Lirismo e poesia, alegria e melancolia.

    A exposição “Metamorfose”, que é síntese da trajetória dos passos do artista, é uma linha contínua em 30 quadros, mas cada um com sua individualidade e sentimento próprios.

Verso de cor  por Miguel Gontijo - 2009

Modismo e tendência são situações adversas ao espírito da Arte. A Arte anseia-se na afirmação, evolução e revolução de uma idéia (ou cultura). Modas e tendências são momentos de estagnação, repouso, mas também de absorção do processo que a Arte desencadeou e que, porém, não se pode furtar a viver nela. Um momento de respiro. Como processo natural é facilmente compreendido. A Ciência elabora suas leis sociais, a Arte não elabora leis e trata sempre do homem singular, em sua singularidade absoluta. Nossa cultura (assim como nosso cérebro) tem tendências sedentárias, dadas a querer sobreviver nestes oásis de placidez e criar regras para nortear sensos comuns. Fácil conseguir exemplos na nossa realidade imediata. Olhando em retrocesso, na pintura da década de oitenta quem pintasse com apenas os tubos azuis/pretos eram autores arrojados e contemporâneos. Anos depois “estes artistas” descobriram o azul Yves kleim – ultramar – e acreditaram transpor um processo evolutivo natural da cor. Lodo do cérebro. Branco é apoteose do minimal e ferrugem símbolo do escultor. Arte se faz com quebra de regras, não com sua (re)afirmação. Refaz conceitos, não gere pré-conceitos. O que descrevo é apenas o verniz cultural, porque no meio de tudo isto “… o além-da-coisa, coisa livre da coisa, circula”, e aí mora a Arte.

Há um certo temor em enfrentar os espaços multicoloridos de Lazzarini. Não posso negar que seus quadros, fundindo com a exuberância das cores naturais de nosso país, tendem a torná-los over. Mas, não podemos negar que eles correm contra a ditadura da cor (ou modismo) vigente na arte de agora. Ele pinta com uma honestidade peculiar num mundo demasiadamente amedrontado para ser honesto. É um artista que usa toda a extensão cromática, sem medo nem conceitos. Um pintor que Portinari identificou como “pintor que pinta de ouvido”. E é pintando de ouvido que lhe vejo. Poeta que não se deixou sufocar pelas montanhas de Minas. Cria quadros que respiram, sejam pela limpeza da cor ou pela simplicidade da forma. Seus quadros celebram o triunfo supremo de estar o mais ativamente vivo, o mais perfeitamente vivo e sermos parte do cosmo encarnado. Harmonia e simetria são elementos rapidamente identificáveis em sua obra. Há um jogo livre entre a imaginação e o intelecto transformados em uma espécie de caixa de ressonância capaz de articular a força da nossa imaginação. O indistinto torna-se poético por excelência. Quanto mais nítido é o limite da cor, tanto mais evoca – por contraste – o próprio infinito. Deste modo se institui um confronto inexeqüível e inesgotável entre as bordas da “cerca” de cor e os espaços intermináveis além delas. Quanto mais o contorno que as separam é determinado, tanto mais vaga é a configuração que resulta do mesmo contorno. Por conseguinte, os desejos de vagar, de perder-se, são os traços distintivos da beleza em sua pintura na sua forma mutável.

Lazzarini é um verso de cor. Não verga e imagina vencer crises. Vive e trabalha com os olhos. Suas formas estão impregnadas dos objetos imediatos e caseiros, das vivencias interioranas, sem cair no folclorismo. Suga sua vitalidade de um enraizamento tribal e telúrico, colorido por uma desafetação e verve de intenção, que eu diria, séria. Se Lazzarini vive o compasso respiratório da Arte ou o embate dela, não importa. Os dois lados têm a sua serventia. O que conta é a perseguição de um propósito e a tentativa de alcançá-lo. Para ele, existir é uma maneira de resistir, de coexistir, de transmitir. Por mais prazeirosa que seja qualquer profissão ela não se faz à deriva.

é preciso ter o alvo na mira todo o tempo? 

                                                               eustáquio silveira - 2007

 É preciso ter o alvo na mira todo o tempo ?  O certo é que se o ‘álvaro’ não for o outro/eu  alguma coisa estará fora da ordem.  E é justo esta ordem que a arte  deste Jb Lazzarini  apresenta. As emoções ordenadas  em seus átomos/cores refletem, narcísicas, o  outro/eu.  Ele minimaliza suas cores, ‘poveriza’ suas linhas, adereça seus cantos, fantasia com seus acabamentos, e a música das cores se apresenta com suas sete notas jazzisticamente postadas. Dentro dele mora um decantador. Quando preciso  de emoções/saudades vou lá, nesta arte, pegar emprestado uma xícara.    Decantar ou não decantar: eis  a questão!  Vejo pedaços do tempo no horizonte e penso em Shakespeare/Guimarães Rosa  Ying/Yang    mas, o que é quem ?   A arte em nós... e esses espíritos  que não vão embora ?   Lá estava o 3º olho/margem do Jb. Um proto-punk a rondar o ‘flower power’  e a inserir a amargura neste jazz verbal “language is a virus”  R’a’P  do ‘du bom’ que vem dos excrementos sociais decantados. Somos um mata-borrão pollockiano de manchas próprias. O exegeta entra-e-sai da toca: “Vocês  querem bacalhau ?”        

pierre santos - 2007

Os quadros de Lazzarini atingem-nos através de comovente expressividade e rica modulação de cores, para cuja distribuição simbólica – boi, boiadeiro, lua, viola, casa, casebre, rio – condicionada em campos chapados, sem modulações e tudo exposto
em exagerada limpeza que soube desenvolver em seu trabalho. Na série atual vai fundo na temática, explorando-a por todos os lados possíveis e transmitindo-nos de maneira singela tudo quanto é o sertão, com suas alegrias e tristezas, suas labutas cotidianas
e a ingênua folgança do caboclo nas noites de luar, em que pega a viola e a faz planger essa melancolia que lhe vem do sertão, pois viola em mão de sertanejo adquire por magia do meio vida própria. Não seria esta plangente toada, misturada aos ruídos de seixos rolando em regatos e estridentes coaxos de rãs apaixonadas, que as pinturas de Lazzarini nos faz ouvir?

eustáquio silveira -  2003

No princípio era o caos, metáfora primordial para a criação dos códigos/símbolos de apropriação das coisas. Em JB, no princípio era a cor. E esta multiplicou-se adentrando formas/símbolos com tal força que o diálogo instala-se.

Esta comunicação pela cor o artista alcançou. Todos os seus diálogos com a forma, sempre na síntese de cada escola/vida/arte, trabalha com uma cor mãe de todas as coisas voando com as formas por entre nuvens azuis, amarelas, vermelhas e brancas compondo sinfonias…

Esta sensação/comunicação acalma os sentidos mostrando-nos a beleza das coisas de todos os dias das nossas vidas. A arte discutindo valores, transgredindo comportada como a aplicar a inocência anestésica do belo para mostrar-se de todos nós humanos seres.

 

Assim caras, mãos, casas, igrejas, bandeiras, máscaras, rios, violas, gatos, peixes, luas, estrelas e sóis, jogos de armar brincando de esconde-esconde emergem atávicos signos todos recorrentes a este estágio mágico da inocência que só a alguns é dado tê-lo. Miró é um que sabe. JB bebe água nesta fonte. Salve!

a pop art de jb lazzarini -  por morgan da mata - 2000

JB Lazzarini; explora a diversificação da mídia (novas mídias) em suas mais inusitadas opções, no início de sua carreira trafegou por arte e ecologia, flores, paisagens, animais.

Da depuração de tal fase alcançou o que há de mais instigante em seu trabalho, recorrente a pop art e o construtivismo.

Incursionando pelas vertentes da pop art e do construtivismo, ao que parece, o artista encontra o seu próprio caminho.

Com relação à sua pintura propriamente dita, minidetalhes saltam aos olhos, assim como os líderes do movimento da pop art dos dois lados do Atlântico (leia-se Inglaterra e Estados Unidos), na década de 70.

Releituras, variações ou homenagens. Pode-se dizer que sem recorrer a nenhuma de tais situações, JB explora novas vertentes de maneira instigante e surpreendente.

Partindo da série de geométricos, recorrente a pop art, agora numa depuração espontânea e natural, através de suas pinturas, instalações e objetos, atinge a grande virada em sua obra, com diferentes módulos que pairam nos limites do construtivismo e do movimento neoconcreto. O trágico negro, em contraponto com espaços estanques das cores quentes e vivas, avaliza sua evolução.

JB Lazzarini é um artista pronto para representar o Brasil em mostras de peso, caso das bienais de São Paulo e da Dokumenta de Kassell.

a trajetória de jb lazzarini por guiomar lobato - 1998

JB Lazzarini, com mão muito firme e apurado senso estético, começou pintando animais e florestas, dentro do estilo Pop Art. A seguir, explorou o Pop Art Geométrico, conseqüência natural do seu domínio das linhas e das soluções cromáticas. Esta mesma segurança levou-o à Optical Art (Op Art) onde sua série ilusionista, de brincadeiras ópticas, é bem conhecida.

 

Continuando neste espírito lúdico ressalta em seu trabalho um domínio pleno do preenchimento equilibrado da tela, perfeita noção cromática, onde percebe-se os veículos de sua observação divertida e bem humorada da vida.

 

Sua arte vem amadurecendo a “olhos vistos”, sintetizando todas suas variações anteriores, num resultado apurado, elegante e harmonioso, firmando-se dessa forma como um artista plenamente consciente.

Intelectualmente falando, explodindo um amadurecimento latente que os críticos esperávamos dele, tornando-se um dos expoentes da arte internacionalmente contemporânea que temos em Minas Gerais

a pintura de jb por pierre santos - 1995

Tenho muita admiração pelo trabalho de JB Lazzarini, artista em constante evolução, que ora, na definição de seu estilo, chega a uma espécie de neo-popismo, mostrando à sua maneira uma pintura sinalética referente, dentro de um certo nacionalismo, a símbolos extraidos de nossa realidade significativa.

Usando em sua pintura campos chapados fortemente coloridos e contrastantes entre si, em que se constituem imagens - símbolos do continente expressivo, conforme a proposição temática.

A originalidade fica para a maneira tão pessoal de extrair de um conteúdo plural um particular significado que mora na vivência do artista.

Acredito que ai se encontra um caminho rico de sugestões, que este jovem talento, já com um recomendável currículo, saberá trilhar em seu progresso artístico.

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